Nesse momento, estou a bordo de uma grande
aeronave que voa a uma altura impressionante e percorre centenas de quilômetros
por hora. O sol acaba de se por e, à medida que sua luz se esconde, torna-se possível
contemplar dezenas das milhões de estrelas do céu. O voo está lotado, os
comissários passam com os carrinhos de mão, oferecem água, salgadinhos... – mas
nada disso é real, embora pareça ser. Há alguns minutos tudo estava silencioso.
Ainda estava claro e eu espiava pela janela o deslocamento apressado das nuvens
no céu, enquanto notava, na terra, ao longe, o crescimento de vários tipos de
vegetação. Bastou que as caixas de som divulgassem o início do serviço de bordo
para que a paixão tomasse conta da cena, fazendo com que os passageiros –
homens de negócios, famílias em férias, casais enamorados – se agitassem. Na
cabine, agora, depois de acionarem o piloto automático, provavelmente os
pilotos se deliciam com seu lanchinho vip. Ó, quão poderoso Krishna é! Quão
inconcebíveis Suas diferentes energias são! Quão obtusa é a nossa mente que não
percebe a manifestação cósmica e suas variedades como simples interações dos
três modos da natureza! Quão grande é nossa cegueira que não nos deixa ver o
verdadeiro piloto por trás de tudo!...
Embora todas as coisas mencionadas pareçam
realidades tangíveis, num próximo momento tudo se evaporará exatamente como as nuvens
do céu. Ou seja, a aeronave e seus pilotos, tripulantes e passageiros, os
homens de negócios e seus negócios, este computador de mão, meus dedos, que com
a ajuda das teclas procuram registrar ideias, assim como eu mesmo – nada disso
é real, embora pareça ser. Ou, se preferir, tudo é tão “real” quanto as nuvens
que contemplo no céu. É devido a ela que existe a chuva e, porque chove, existe
esta grande abundância de vegetação efêmera, embora, em última instância, a
nuvem, a chuva e a vegetação, inevitavelmente desaparecerão, assim como esta
aeronave, seus tripulantes, este computador e suas teclas, eu, meus dedos e
tudo o mais. Somente o céu permanecerá, com sua incontável variedade de
luminárias.
Sri Krishna, o Absoluto, ou summum bonum, pode ser comparada ao céu,
pois somente Ele permanece eternamente. As outras coisas, que não diferem em
nada das nuvens passageiras, desaparecerão uma a uma. E, assim como Sri Krishna
permanecerá, permanecerão também os verdadeiros eus, ou almas espirituais, que,
por serem partes integrantes Dele, se comparam às luminárias do céu.
Enquanto o homem comum se atrai unicamente
pelas nuvens temporárias; os introspectivos, ou sadhus, colocam seu interesse no
céu eterno e sua variedade de luminárias. A conclusão é que, se queremos
aprender sobre aquilo que é real, que faz parte da Verdade Absoluta, devemos buscar
a companhia destes sadhus. Ouvindo-os, as amarras que nos prendem a diversas
afeições pelas nuvens ilusórias e suas criações serão cortadas e o caminho da
liberação que nos conduz ao reencontro com o Absoluto irá se descortinar diante
de nós. Caso contrário, sob o efeito ameaçador da sombra da verdadeira
realidade, permaneceremos desnorteados, sem compreender quem é o verdadeiro
piloto por trás de tudo.
– Belém, PA, 07/06/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário