Jung falava que dentro de todo ser
humano existem dois princípios: o masculino e o feminino. Ao casar-se “por
dentro”, a razão estaria se unindo ao sentimento, o que produziria a desejada
unidade perfeita. Expandido essa ideia, alguns pensadores acreditam que esses
dois princípios se dividem também na forma de Ocidente e Oriente, e que,
portanto, um casamento entre eles seria muito bem vindo.
O Ocidente representaria o aspecto
masculino, o dominador; enquanto o Oriente, a Índia em questão, o feminino, o
acolhedor. Esse ponto de vista ganha força ao constatarmos o impacto que o
sistema industrial ocidental provoca na Índia. Ou seja, quando separada da
visão do sagrado, a racionalidade exploratória ocidental mina a percepção que
todo ser humano leva dentro de si da presença divina na natureza e nos homens.
Assim, quando desequilibrado ou pervertido, o lado masculino (purusha)
representa o aspecto agressivo, controlador, dominador; enquanto o feminino, o
ingênuo, o inocente, o extremamente dependente.
Não há como negar que, com sua
mentalidade excessivamente racional, o Ocidente tem produzido um povo bastante
fechado em seu próprio ego. Quem duvida disso deve observar seus gestos
ríspidos e desajeitados, sua maneira monótona de se vestir, sua ausência de
cordialidade. Em contrapartida, o formigueiro alegre e abundante do povo
indiano, com seus turbantes e saris multicolores, lembram a beleza variegada e
natural de um jardim florido... Isso porque a Índia tem um jeito próprio de reduzir
ao mínimo as necessidades da vida. A maioria usa uma camisa e o chamado dhoti –
um simples pano da cintura até os pés; enquanto as mulheres se vestem de sari e
uma miniblusa para cobrir os seios, sendo que essa peça é relativamente recente
e frequentemente dispensável para as mais velhas. Eles pensam, “Para que uma
casa, uma vez que é possível viver numa caverna ou abrigar-se junto a um
terraço de um Templo?”...
No caso de se viver numa casa, “Para que
mobília e fogão, uma vez que é possível dormir numa esteira e, junto ao chão,
acocorar-se e fazer um simples foguinho para cozinhar?”. Uma existência tão
fora da nossa realidade que antes de visitar a Índia eu não teria julgado
possível. Reduzindo a vida a uma simplicidade absoluta, parece que eles vivem
inteiramente desligados das coisas do mundo, dependendo da providência divina
para as necessidades básicas como comida, abrigo e vestuário. Certamente, era
esse tipo de pobreza de espírito que Jesus se referia em seu célebre Sermão da
Montanha. Pobreza como desapego do mundo. Castidade como desapego da carne.
Obediência como desapego do falso ego. Renúncia do 'eu' e do 'meu'.
É claro que nem todos os indianos são
assim, mas não há como negar que a cultura indiana, de um modo geral, exala
muito mais desapego e despreocupação. O mais curioso é que, embora tenha como
característica a renúncia ao mundo, o hinduísmo construiu templos de
arquiteturas avançadíssimas, cobriram as paredes das cavernas com pinturas
refinadas, construíram grandes balneários (kundas) e outras belezas
incomparáveis e fantásticas! Isso porque, não importa possuir ou não objetos
materiais, contanto que não se esteja excessivamente preso a eles e não se
tenha uma dependência vital deles. Em outras palavras, a verdadeira vairagya,
ou renúncia, nunca se opõe à missão de servir ao mundo. Portanto, o verdadeiro
renunciado, estando livre do ahankara, falso ego, assume o compromisso de
servir o mundo, pois, devido à sua visão espiritual, ele enxerga as coisas como
elas são e sabe usá-las como devem ser usadas. Ele é um atmarama, uma alma
comprazida em si mesmo, devido à sua união com a paramatma, a Alma Suprema, que
habita em seu interior.
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