terça-feira, 11 de março de 2014

Simplicidade e introspecção

 As atividades executadas nesse mundo colocam o indivíduo em contato com a roda de samsara, palavra sânscrita que se refere ao ciclo ininterrupto de nascimentos e mortes. Em outras palavras, sob o impulso das suas atividades piedosas ou impiedosas, ele ora sobe a um planeta material superior, ora desce a um planeta inferior, ora vem ao mundo numa família abastada, ora nasce numa família carente, ora possui um corpo saudável e vigoroso, ora se vê às voltas de enfermidades e moléstias. Seus prazeres e sofrimentos são de natureza tão efêmera que podem ser comparados às experiências de uma criança tola que se diverte num carrossel colorido.

Aquele que se deixa cativar pelo encanto da poderosa energia ilusória busca desesperadamente por uma posição segura e confortável e, como não se satisfaz com os recursos oferecidos por este planeta, se lança no espaço, em direção à Lua, Marte, Vênus, etc. Mas, será que existe algum planeta nesse mundo que seja imune às dores da velhice, da doença e da morte? A resposta dada pela Bhagavad-gita é que a verdadeira felicidade, segurança e conforto só serão encontrados além dos limites do Universo material, pois as dores supramencionadas estão em qualquer canto desse mundo. Ao entendermos isso entendemos também que a vida humana não se destina a desfrute sensorial temporário, mas à autorrealização espiritual. Empenhar-se, portanto, na autorrealização significa agir em harmonia com o princípio de “tirar o melhor proveito de um mau negócio”, significa aceitar tão somente as necessidades básicas da vida e não deixar que a energia humana seja desviada para outros propósitos. Significa não estar interessado em fomentar ou se envolver com coisas que serão esquecidas no decorrer do tempo e que, portanto, não são diferentes dos murmúrios das ondas do mar. Significa entender claramente que a meta deve ser restabelecer nossa relação com Deus, a qual foi interrompida quando nos lançamos na roda de samsara. Em suma, quem se empenha em autorrealização preza por vida simples e pensamento elevado, o que é muito diferente de uma vida animalesca, sem cultura, educação ou moralidade. Na verdade, num contexto de simplicidade e introspecção, a arte, a ciência, a filosofia e tudo mais são muito benvindos, caso se prestarem para estimular o reencontro com o divino. No passado, muitos dos verdadeiros artistas, cientistas e filósofos não viveram em construções palacianas, mas, mesmo em suas cabanas produziram imensos tesouros de sabedoria. Em outras palavras, quando em demasia, os confortos materiais podem ser prejudiciais para o progresso espiritual. A conclusão é que, através da simplificação da vida, cria-se uma condição muito auspiciosa onde há uma grande reserva de energia humana para ser utilizada na autorrealização espiritual.