sábado, 10 de novembro de 2012

Serei eu um membro da Igreja dos “Mornos”?


Não, não digitei errado. Não estou me referindo aos Mórmons, aqueles da “Igreja de Jesus Cristo dos santos dos últimos dias”. Estou mesmo falando dos mornos – aqueles que não são nem quentes, nem frios. Na Sagrada Bíblia (Apocalipse 3.15-16), o Senhor Krishna (por que não?) fala deles: “Conheço tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, estou para vomitar-te de minha boca”. Portanto, sejamos mais radicais! (etimologicamente falando, é claro). Radical significa firmar-se nas raízes, sem convicções epidérmicas. Significa solidez na postura, na decisão tomada. Radicalidade é uma grande virtude, a virtude de romper com as próprias barreiras e dirigir o olhar para outras possibilidades, mas agarrado às raízes. E o tal do “caminho do meio”? Não confundir caminho do meio com caminho da mediocridade. Limite sim. Mas, será que o limite está sempre exatamente no meio? O grande sábio Confúcio vem em nosso socorro: “Eu sei porque o meio-termo não é seguido. O homem inteligente ultrapassa-o, o medíocre fica aquém”.
Seria um “morno” um medíocre? Aquele que, mesmo entendendo a importância da vida espiritual (e até se proponha a segui-la), acaba recuando diante dos mínimos obstáculos? Seria aquele que é carente de convicção, de determinação, de firmeza? Ou ainda aquele que, mesmo sendo adepto de algumas práticas devocionais, é apático demais para transpor as dificuldades do dia-dia, pois, de fato, não coloca o coração em suas atividades?
Srila Prabhupada disse que a vida espiritual é uma declaração de guerra contra maya. Assim sendo, talvez o morno se enquadre na categoria daquele que não tem suficiente coragem de assumir esta batalha, que não odeia o próprio pecado dentro dele. Quanto a isso, podemos recorrer ao Sri Upadesamrita, onde Srila Rupa Gosvami prevê que uma das nossas mais difíceis batalhas pessoais é certamente contra a nossa tendência ofensiva de cantar a japa ou ler os livros de Srila Prabhupada de forma mecânica (niyama-agraha). Um praticante mecânico é certamente aquele que carece de fervor e, portanto, é morno. Desse modo, suas práticas espirituais são fracas demais para conquistar seus inimigos internos.
Não é difícil reconhecer quando a “mornice” ganha terreno dentro de nós. Nesse momento, surge a apatia, a desmotivação, o descontrole dos sentidos e a empatia ao modo de vida materialista – que é a soma de tudo isso. Mas, quando somos socorridos pelo "fervor devocional" isso não pode acontecer, pois ele vem para nos lembrar de que nada é mais prazeroso do que as discussões filosóficas transcendentais entre devotos, nada é mais interessante do que o estudo detalhado dos livros de Srila Prabhupada, nada é mais gratificante do que uma participação entusiasta nos kirtanas e programas espirituais!
Outra característica da “mornice” é que ela faz com que suas vítimas prefiram falar mais de si mesmo do que trocar experiências verdadeiramente transcendentais de vida. Assim, nas “Igrejas dos Mornos”, as famílias Vaishnavas parecem mais um grupo de estranhos, onde irmãos, sobrinhos e tios espirituais mal cruzam suas histórias, e onde o sentido divino da família maior de Srila Prabhupada é infelizmente substituído por divisões, exclusões e discriminações que podem chegar a patamares inaceitáveis. Quando a “mornice” sobrepõe o “fervor devocional”, ela vem para impedir que o devoto transforme as informações das escrituras em conhecimento prático e experiências geradoras de amor e confiança e, consequentemente, em entusiasmo. Assim, os mornos são, em sua maioria, repetidores de informações – uma massa que teme a arte da crítica saudável, da autocrítica e da dúvida, e, portanto, mal interpretam aqueles que gostam de pensar. Ela, a “mornice”, nos faz viver ansiosos, estressados, deprimidos e até cria condições para o surgimento de doenças emocionais, típicas de não-devotos. Mas, quando, pela graça do guru e de Krishna, o fervor devocional se impõe sobre ela, acompanhado dele vem o desapego, o controle da mente, a lembrança dos maravilhosos exemplos dos acharyas do passado, a meditação nas lilas de Srila Prabhupada e nas suas instruções infalíveis e espiritualmente revigorantes.
“Devia ter amado mais, ter chorado mais (...) devia ter arriscado mais e até errado mais”.
(Manaus, AM, 10/11/2012)

Um comentário:

  1. Sem duvida, esse post deve ser lido todas as vezes que surge um pensamento de comodismo ! conhecimento sem ação não tem sentido !

    HARE KRISHNA

    ResponderExcluir