Você está satisfeito com a qualidade da sua vida espiritual? Sim? Então, tome muito cuidado...
É claro que, por um lado, é importante sentirmos certa satisfação. Afinal, um devoto ou uma devota que conseguiu se livrar do complicado modo da paixão e se fixou no serviço devocional experimenta verdadeiro ruci, ou sabor espiritual em suas atividades. Mas fomos advertidos também da manifestação sutil e condicionante do modo da bondade: o sentimento de satisfação que dá a sensação de conclusão, encerramento, término. Aquela satisfação que não deixa margem para o prosseguimento. Aquela que limita, amortece, engessa. Por isso, o grande escritor e poeta Guimarães Rosa nos cutuca: “o animal satisfeito dorme” – uma provocação altamente cabível.
Um bom livro não é aquele que não queremos que ele acabe? Lembro-me claramente que isso ocorreu comigo quando eu lia o último volume da biografia de Srila Prabhupada. Eu fazia de tudo para não terminar. Eu estava satisfeito com a leitura? Plenamente satisfeito! Mas eu queria mais. Essa é a qualidade da satisfação transcendental. Me lembro também que quando o livro chegou ao fim deixei-o apoiado no meu colo ainda por muito tempo e, cheio de satisfação, fiquei perdido em devaneios espirituais.
Um dos versos que considero dos mais impressionantes e intrigantes é a oração da Rainha Kunti: “Que venham as calamidades!”. Como assim?...
Essa espantosa afirmação dessa maravilhosa devota de Krishna serve para corroborar também a ideia de que a insatisfação é bem-vinda. Definitivamente, não podemos nos render à sedução do repouso e deixar a acomodação engessar a nossa vida espiritual. Portanto, o sentimento de insatisfação pode ser um dos melhores motivos para sairmos da nossa zona de conforto. Em outras palavras, é uma grande misericórdia nos sentirmos desconfortáveis em nossa pequenez. Como já dizia Belchior: “E precisamos todos rejuvenescer”. É claro que materialmente falando isso é impossível. O corpo material inevitavelmente irá envelhecer e não há o que fazer para determos isso. Mas, no campo espiritual, diferente da vida corpórea, podemos sempre rejuvenescer. Isso é vida espiritual (bhavanti hrt-karna rasayana kathah).
Materialmente falando, é um fato que quanto mais vivemos, mais velho ficamos. Mais, quem pratica a vida espiritual tem uma sensação completamente diferente. Parece loucura, mas, se usarmos o fator tempo como medida, para um devoto, o mais velho dele está no passado e não no presente. Como assim? Isso ocorre porque a pessoa em consciência de Krishna está sempre e cada vez mais se surpreendendo positivamente. Desse modo, a cada período, um devoto que vive isso possui cada vez mais qualidade na sua vida espiritual. É como se ele sempre se tornasse uma nova edição dele mesmo – uma edição revista e muitas vezes até ampliada.
Jay Gurumaharaj!
ResponderExcluirObrigado por seu serviço de pregação, sempre útil e precioso para todos nós!
Ss, BKD
Jaya Maharaja!
ResponderExcluirGostei muito do texto...acabei de ouvir um darshan a live de Srila Acaryadeva e a senssação foi essa de querer mais...rsrs.
Lhe Pergunto: Então quer dizer que sempre sentir que não está fazendo o suficiente para sua vida espiritual é normal?...é como um incentivo para se fazer mais?
Reverências
Anantaisvarya d.d
Jaya Srila Acaryadeva!
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