quinta-feira, 9 de maio de 2013

Atitude submissa

Além de supervalorizar os trabalhos de pesquisa e a erudição, o mundo acadêmico ocidental dá votos de confiança exagerados aos poderes dos indivíduos. Mas, discordando dos métodos acadêmicos atuais, o sistema atemporal védico – que não confia em absoluto na especulação mental e no uso dos sentidos limitados e imperfeitos – recomenda enfaticamente que o estudante procure um mestre espiritual tattva-darsi (vidente da Verdade), e, numa atitude submissa, se renda a uma disciplina espiritual. É claro que, para os ouvidos ocidentais, a palavra “submissão” não soa muito bem, já que, do lado de cá, sempre fomos inspirados a privilegiar os métodos e abordagens apoiados na especulação mental. Assim sendo, o método “submisso” no qual os estudantes obtêm conhecimento pelo processo que descende de mestre a discípulo é frequentemente interpretado como restrição dogmática ou doutrinária – isso quando ele não recebe a acusação de repressor da inteligência natural.
Mas, além de agitar o falso orgulho, qual seria o verdadeiro problema em se aceitar a ajuda de preceptores que, além de terem se dedicado a um profundo aprendizado, se submeteram também a rigorosas disciplinas espirituais e foram devidamente treinados na formação de caráter?...
Para dizer a verdade, nem a educação universitária consegue fugir da regra da submissão, pois, acaba dependendo também dela, já que todo aluno acaba se submetendo às diretrizes de um professor. Eu me lembro de uma palestra de Srila Acaryadeva, meu preceptor (que, certamente, é um autêntico tattva-darsi), em que ele dizia que um dos mais graves problemas da educação universitária é que eles inventaram um jogo com regras caprichosas e arbitrárias que chamam arrogantemente de método científico. O futebol, por exemplo, autoriza somente o goleiro a pegar a bola com as mãos, embora, no vôlei e no handebol, as regras sejam bem diferentes. Do mesmo modo que, com visão ampla, seria inaceitável afirmar que o futebol é o único esporte verdadeiro, seria igualmente pretensioso e inadmissível considerar o método acadêmico como o único científico – uma vez que este método não passa da criação de um simples jogo com suas próprias regras.
Em outras eras, onde a atmosfera era bem mais favorável, o “jogo” era “jogado” por filósofos e cientistas muitíssimo mais inteligentes, que partiam da premissa de que a busca por respostas e explicações não era diferente da busca por Deus, a origem suprema. Portanto, seu “jogo”, com regras muito mais avançadas e contando com a ajuda de fontes espirituais, era muito mais interessante. Por outro lado, por ater-se nas experiências empíricas, o atual modelo acadêmico é um completo fracasso quando tenta perceber as verdades além do alcance do ser humano. De fato, é uma ingenuidade absurda acreditar que Deus e Suas verdades superiores poderão ser compreendidos através da manipulação e controle por parte do cientista. Definitivamente, somente um fanático petulante acreditaria na possibilidade de fazer de Deus sua própria cobaia! Assim, o método empírico só poderá ajudar – quando muito – a compreendermos coisas relativas ao universo material. Entretanto, além desse conhecimento material relativo, existe o conhecimento transcendental que diz respeito às coisas situadas além do nosso limitado campo de visão. As escrituras védicas, portanto, revelam informações que são inconcebíveis para os nossos sentidos ou raciocínios materiais, mas que, através das práticas de yoga e meditação – uma metodologia científica espiritual – podem ser realizadas e percebidas diretamente.
Basta que o estudante receba orientação de um guru tattva-darsi, o que torna desnecessário o trabalho de pesquisa. Ao aceitar a iniciação de um guru, que não somente acredita no que está ensinando, mas o pratica fielmente, um novo campo de conhecimento se descortina diante do discípulo, pois é bem mais fácil compreender as escrituras por ouvir instruções de alguém que esteja pleno de realizações pessoais do que por estudar por conta própria a palavra escrita. Além disso, o guru é um representante vivo da sucessão discipular e traz consigo os ensinamentos dos mestres antecessores. Na verdade, o que qualifica o guru não é seu conhecimento acadêmico ou seu brilho intelectual, mas sua retidão de caráter e sua posição acima do desfrute egoísta e sua condição de liberdade da escravidão das demandas corpóreas. Convicto de que o conhecimento espiritual traz as verdadeiras soluções para os problemas (que são sempre de ordem material), ele pessoalmente leva uma vida bem-aventurada em união com o Supremo e todas as suas instruções são compatíveis tanto com o seu comportamento quanto com os ensinamentos originais dos Vedas. É muito raro encontrar tal grande alma.

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