quinta-feira, 9 de maio de 2013

Além das verdades relativas

“Como surgimos, como fomos criados?” – foi assim que um senhor idoso da plateia mostrou uma curiosidade tipicamente científica. Antes mesmo de eu dar início a minha resposta, ele falou sobre sua ideia da nossa ancestralidade dos macacos, das bactérias evolucionistas... Meu Deus! Onde foi que eu errei? Meu discurso, que era tão ingênuo, girava em torno das qualidades da alma: aquela que nunca nasce, nunca morre, é eterna e primordial...
Respondi-lhe inicialmente dizendo que só poderia falar de criação do corpo material, pois, segundo a Gita, a alma é sempre existente e nunca é criada. Mas, ele insistiu: “Somos produtos do encadeamento de reações químicas e, pela influência de leis mecânicas cegas, nos desenvolvemos...”. É claro que demonstrei respeito pela sua ideia de ‘sopa cósmica primordial’, mas era imperativo que eu recuperasse a atenção da plateia que, calada, esperava alguma luz vinda de mim. Foi então que me atrevi: “Para mim, muito mais atraente do que a pergunta ‘como fomos criados’ é o questionamento filosófico ‘por que e para que existimos’, já que ele abre um leque altamente inspirador, pois pressupõe que por trás de tudo pode haver um legislador consciente que tem um plano primoroso e perfeito. Por outro lado, a questão ‘como surgi nesse mundo’ pede respostas meramente químicas, tipo ‘originalmente, éramos nada mais que um ovinho no ventre de nossa mãe, um tipo de feijãozinho, etc.’. Será que podemos nos contentar com a explicação de que não passamos de um ser mecânico, físico, uma máquina?”. Ao sentir que a maioria das pessoas voltara a relaxar em suas poltronas, parafraseei o grandioso Einstein: “Não posso acreditar que Deus esteja praticando um simples jogo de azar com o Universo!”.
Ora, as verdades materiais são relativas: o que hoje é verdade, amanhã deixará de ser, o que se aplica para uns não se aplica para outros. Verdades relativas se fundamentam no corpo, que nem sempre existiu e inevitavelmente deixará de existir. Tomemos o exemplo da posição de uma pessoa que em relação ao seu filho é pai, mas em relação a seu pai é filho. Do mesmo modo, o conceito de amigo, inimigo, esposo, patrão, empregado, controlador, controlado, etc., também são relativos. Por isso, o início do Vedanta-sutra é marcado pela seguinte orientação: “Vá além dessas verdades relativas e busque o brahman, o espírito – aquilo que para todos e em qualquer lugar sempre permanecerá verdade”. Segundo a Gita, esse brahman somos nós, o verdadeiro eu espiritual, a natureza absoluta que, independentemente da cobertura corpórea, da circunstância, do lugar ou do tempo, permanece inalterável. Ou seja, somos a alma não-nascida, primordial e sempre existente
(continua).

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