quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O que é um devoto? (Parte 1)

Ser um devoto não quer dizer ser impecavelmente perfeito, acertar sempre, manifestar o máximo de excelência em todos os campos de atuação. Muito menos, nunca falhar, não cometer o menor erro, não ter nenhum momento de fragilidade, não recuar, não chorar. O devoto chora, mas não se lamenta, pois usa sua lágrima como combustível que alimenta o fogo do desejo de reconstruir sua personalidade devocional. O devoto também erra, mas faz de seu erro uma oportunidade de cultivar humildade verdadeira e, assim, não cria máscaras para se esconder atrás delas.
Ser devoto não significa ser simplesmente todo-poderoso e, por conta própria, cruzar qualquer barreira ou superar qualquer obstáculo que a vida lhe impuser. Diante da poderosa energia material o devoto admite sua pequenez e fragilidade. Assim, para se livrar da repetição dos erros, ele usa os possíveis fracassos do dia-dia para corrigir rotas e melhorar o seu desempenho.
Quando tudo se encaminha bem, o devoto é adepto da humildade e da simplicidade, mas, ao mesmo tempo, se mantém atento para as possíveis mudanças do tempo. Quando as coisas se tornam difíceis, ele é amante da gravidade e da introspecção, mas continua amigo da humildade e da simplicidade, pois sabe que elas são as raízes da paciência e da tolerância – qualidades imprescindíveis para quem se propõe a cruzar qualquer tempestade.
O devoto tem motivos de sobra para nunca desacreditar da vida espiritual, para nunca desistir ou perder a determinação, pois sua mente, purificada pelo santo nome, o ensinou a arte de destilar sabedoria dos momentos difíceis. Seu coração, suavizado por austeridades voluntárias, aprendeu a fazer escolhas, que não incluem apenas ganhos, mas implica principalmente em perdas conscientes.
Ser devoto significa entender que cada ser é um diamante infinitamente valioso, uma das obras-primas mais perfeitas de Krishna. Significa respeitar a individualidade de todos e saber que, mesmo tendo sido escrita com insegurança, frustração e falhas, toda vida é também ilustrada com parcelas de sinceridade, ousadia e sucesso. Para um devoto que entende que a vida que pulsa dentro dele – e, certamente, dentro de todos – é o próprio Krishna, como poderia ser diferente? Como ele poderia deixar de respeitar alguém – incluindo a si mesmo – se ele sabe que cada ser é um mundo maravilhoso a ser explorado, um diamante a ser lapidado, um jardim a ser cultivado? Ser devoto significa entender que só existimos porque Krishna existe, e que, assim como a alma dá vida ao corpo, Ele dá vida à alma.
Ser devoto não significa fazer parte de uma massa que teme a arte da crítica saudável, dissimula a dúvida, ou duvida de tudo e, quando mal interpreta os verdadeiros pensadores, tece críticas inescrupulosas. Ele aprende com a experiência alheia – não para repetir a dor dos que vieram antes, mas para seguir os passos das grandes almas do presente e do passado.
Um verdadeiro devoto está tão empenhado em proteger seu tesouro interior, obtido pela graça do guru, e tão ocupado em cuidar da sua trepadeira da devoção, que nunca vê motivos se deprimir ou perder o entusiasmo. Sua gratidão é tamanha que, mesmo quando é contrariado ou criticado, não sente a menor pena de si mesmo, pois se compara ao pobre garimpeiro que, depois de passar a vida toda removendo cascalhos, finalmente encontrou o maior de todos os diamantes!

3 comentários:

  1. Maharaj, obrigado por aprofundar um pouco mais. Assim posso intuir que há profundidade no lago, que é possível mergulhar sem bater a cabeça no fundo... Rsrsrs... Muito obrigado.

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  2. Maharaj, o senhor não sabe como foi importante cada palavra escrita para mim, hoje em minha orações dizia a Krishna do amor que sinto por ele desde muito menina, e que um dia gostaria de sentir se ELE havia me escutado ou entendido, logo a seguir recebi suas palavras. Obrigado Krishna por ter nos dado uma pessoa tão especial como o senhor. Um dia iluminado. Haribol!

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  3. maravilhoso, instrução perfeita de comportamento e ação.

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