terça-feira, 16 de outubro de 2012

“Tempo – um dos mais escassos artigos de luxo desta era” ou “Agarre o seu dia antes que este se evapore”.

Nesta era de Kali, conseguir tempo para nós mesmos tem se tornado um dos mais escassos e valiosos artigos de luxo. A impressão que fica é que, se nada fizermos para evitar, a velocidade da nossa vida e do nosso mundo só irá aumentar. Talvez seja por isso que as pessoas dizem, “tempo é dinheiro”, no sentido de que ele é valioso demais para ser desperdiçado.
Qual é o conceito Vaishnava de tempo e como ele pode beneficiar uma pessoa?...
Assim como a própria vida, para o Vaishnava o tempo não é uma mercadoria, mas uma completa dádiva, pois ao se fazer uso consciente dele, além de proporcionar avanço espiritual, ele produzirá também alegria e entusiasmo – os mais poderosos antídotos contra o medo, o desânimo e tantas outras armadilhas mentais.
Assim, mesmo em meio às pressões impostas pelos tempos modernos, temos como, através do sadhana-bhakti, perseguir o nosso próprio tempo – que é o tempo que oferecemos para Krishna – pois, sem reservarmos tempo para Ele, não podemos dizer que temos tempo para nós mesmos, quando nossa vida perde o valor, o sentido.
Sem romantismo, o Vaishnava não acredita que os problemas do mundo seriam sanados simplesmente por desacelerar o fluxo natural das coisas. Nem pensa que a solução estaria num retorno generalizado à lentidão. Para ele, a solução é, de acordo com a situação, encontrar o momento certo para cada coisa. Ou melhor, a solução está em acordar cedo e cantar uma boa japa, pois ele sabe que somente assim ele conseguirá agarrar o seu dia antes que este se evapore. Não se trata de escapar das outras atividades, mas é a maneira de criarmos um escudo protetor contra a banalização e limitação das nossas atividades, uma maneira de escaparmos da roda de hamster.
Para o Vaishnava, o tempo é muito mais que uma sequência de datas e compromissos, muito mais que a rígida e implacável ampulheta da vida. Ele é misericórdia divina! Quão grande é a genialidade de Krishna que bondosamente cortou o tempo eterno em fatias, a que damos os nomes de dias, anos, etc.! Por que Ele fez isso? Ora, porque vinte e quatro horas são suficientes para cansarmos da vida. Aí vem a noite, o repouso, e o dia seguinte começa novinho em folha. E o que dizer de doze meses? Definitivamente, eles são mais do que suficiente para entregarmos os pontos e nos refugiarmos em Krishna, quando ganhamos novas chances, novas forças, novas esperanças.
Definitivamente não podemos permanecer o tempo todo vivendo sob a pressão do tempo e da obrigação. Portanto, para que o tempo seja mais valorizado e observado, Srila Prabhupada criou os Ashrams, pois, fora deles, fica muito difícil configurar o curso dos nossos dias de modo a viver intensamente os momentos sagrados. De fato, as práticas devocionais de um Ashram nos oferecem reais e totais possibilidades de imergirmos na espiritualidade, de cultivarmos nossa relação amorosa com Krishna, que está não somente ali no altar belamente decorado, mas também Se manifesta no ambiente natural do campo. Não há dúvidas de que os Ashrams podem nos ajudar anos retirar da influência do fator tempo, pois, quando dedicado à japa, aos bhajans, à leitura devocional, à adoração, o tempo assume o papel de um grande presente de Deus e pode – paradoxalmente – nos transferir à eternidade. Caso contrário, sem nos ocuparmos devidamente no serviço a Krishna, sentimos o tempo escorrer pelos dedos.
No Ashram, estando despertos na madrugada, durante o brahma-muhurta, podemos nos deleitar com uma atmosfera única, que, ao ser bem aproveitada, nos leva à uma japa altamente contemplativa. E, mesmo que não consigamos prestar atenção a cada uma das palavras do maha-mantra, podemos vislumbrar grandes sensações, como a liberdade da mente. Na atmosfera sagrada do Ashram nos sentimos confortavelmente acolhidos por Krishna e percebemos mais nitidamente a misericórdia de Srila Prabhupada!
É uma grande lástima que a maioria das pessoas não possa viver como nós, assim como também não podemos aceitar viver como elas. A conclusão é que devemos nos organizar o melhor possível para que aqueles que nos visitam possam pelo menos observar o ritmo do Ashram e assim constatar que, infelizmente, a sociedade moderna tem levado uma vida antinatural e arriscada, pois, ao trocar o dia pela noite, pode-se pagar um preço muito caro: pode-se perder-se de si mesmo...

“Nascendo e se pondo, o Sol diminui a duração de vida de todos, Exceto daquele que utiliza o tempo discutindo tópicos sobre a excelente Personalidade de Deus” (Bhag. 3.17.17).

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